quarta-feira, 28 de março de 2012

A espera é de quem quer...

Cinza e devagar.
Um grito num sopro de voz.
E nada além de alçar,
Suspiro em "mi".
Casa, céu e caminhar...

De repente, a queda
falta.
E uma pausa sibilada.
o plano de uma pedra.

Sem horizonte.
Nem sopro nem resto.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Quando o vento chora

Um sopro de brisa nos bate
De repente ofusca um encolhimento
Aquilo que não chega, mas parte
E por um momento...

só momento

É o braço que abraça
Firme e tenro no ato
Mas não acomoda. Não passa.
De repente não se rompe o trato

Um som nos alcança
É o acorde que há entre as folhas
Em uma escala que avança
E os olhos se figuram em bolhas

Cinza. É frio?
Não se sabe ou não se quer saber?
Lembra um sorriso que riu
Mas é a falta, dói não ter

Traz leve e suave a saudade
Mas amarga e sem nada
Leva chorando a vontade
Uma lembrança passada

Traz.

Também leva...

Aquele cheiro

Atravessou a rua sem desespero, mas com prontidão. Sexta-feira. A semana acabou. Que nada, estava só começando!
Quase perdera o ônibus, mas o motorista reconheceu o erro da vez passada, e parou hoje no ponto direitinho. Na rua, perto de sua casa, já estavam elas todas assanhadas esperando-o. À medida que ele se aproximava do portão, os olhos delas saltavam de ansiedade, seus corpos exalavam talvez um desejo profano- mas é melhor nem comentar. Ele, muito educado, acenou para as moças do portão, que mais pareciam tietes, e entrou.
Dali a pouco, saia, com a roupa bonita e muito bem passada. O cabelo ainda molhado com o gel que manteria o penteado durante a noite, e é claro, o toque especial e que faz toda a diferença, o perfume. Seguido pelas moças das mais variadas idades, cores, pesos, rostos e bocas, ele ia rumo à alegria da noite, a alegria da vida – naquele tempo.
Quando chegava ao salão, os olhares eram lançados. Ele escolhia a primeira para seus pés acompanharem. No ritmo quente da lambada, seu corpo escolhia o conjunto de mulher. Sim, porque o rosto também conta e muito.
Num pique sem hora pra acabar, ele embalava no som, no entrelaçar de pernas e coxas, no desenlace dos braços e no movimento dos olhos de seu par. Gostava de dançar. Mexia-se a noite inteira. Chegava a suar.
Finalmente sentou. Rendeu-se ao cansaço, que hora ou outra, é inevitável.
O Don Juan do baile já não tinha forças nem sequer para erguer a cabeça, as mãos estáticas não conseguiriam segurar um copo sequer.
Mas sabeis, leitores, que há coisas nesta vida, que precisam de estímulo. Uma das que o encaravam durante o baile, comentou:
- Nossa! Ele se sentou, que milagre!
A outra disse:
- E tá com um perfume! Que cheiroso!
De repente, levantou-se renovado. Puxou mais uma pra roda. E foi, nos contrapassos do salão, que se realizou.

A verdade é que não são só as mulheres que gostam do que ouvem.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Por medo ou por falta de fé?

Por medo, perdi o balé,
por medo, deixei de cantar
Por medo ou falta de fé?
Por medo de acreditar.

Por medo não enfrentei,
por medo, não ouvi.
Por medo, pelo mesmo errei
Por medo, não senti

Por medo, surgiu o segredo
Por medo, não escrevi
Por medo, o mesmo medo
não vivi

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Irremediavelmente tempo...

Floresceu. E Pedro nem percebera. Quando se deu conta, já estava levando-a em seus braços para o altar.Sentia as mãos estremecidas daquela menininha que tinha medo do escuro, mas que agora, ansiosa,não sentia medo e sim, uma felicidade nervosamente visivel; mas ele tinha a feição oblíqua, trazia um ar de desespero e no fundo um pouquinho de alegria.
Oras, todo pai que se preze nunca se conforma absolutamente quando tem de se despedir da filhinha.
A cerimônia: o desfile de pai e filha pelo corredor da igreja, cercado de olhos curiosos. Todos eram testemunha da frustração de Pedro.
Os passos eram lentos, singelos e pragmáticos. Ana, ou melhor, para ele "Aninha", nunca olhou-o com tanta intensidade.
E durante aquela curta caminhada, Pedro reviveu em sua lembrança momentos que são mais de vida do que de memória.
-Aninha,eu sempre vou te proteger, minha querida!Era o que ele queria dizer.
A cada passo dado, seu peito fustigava uma dor que não podia ser compensada pela felicidade da filha. Torcia para que o corredor não acabasse, que o altar, o padre e o noivo estivessem cada vez mais distantes.
Sentia-se incapaz, inválido...
Ficou tão nervoso, que pisou sutilmente na barra do vestido. Por um instante desejou que o vestido tivesse rasgado e isso fosse o estopim para adiar o casamento. Ridículo e inverossímel-um pai não pode desejar o mal para uma filha.
"Egoísta, é isso o que eu sou! Preciso aceitar que já está feito, vou entregá-la de mão beijada aquele magricela", refletiu.
Subiu vagarosamente as escadinhas, deu um beijo triste e conformado na testa da menina e um tapinha carinhoso nas costas do genro.
De agora em diante, não seria o mesmo, viveria à espera de ver a filha num almoço de domingo, na ceia do natal ou talvez, no ano novo. No seu aniversário, com certeza, ela apenas ligaria. Meu Deus! Ela está casada...
Não adiantava, Pedro demorou a enteder que o tempo passa e o que foi vivido é único e exclusivamente do passado. O que resta é só o futuro, que é tão incerto e confuso.
"Ela pode ter vários filhos e não ter tempo de cuidar.Ótimo, as crianças podem ficar lá em casa enquanto ela trabalha, passar as férias comigo. Ou quem sabe, ela não se separa deste paspalho e volta para casa!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ser, eu quero

Eu quero ser o seu colo, seu refugio.
Que tem quando precisa.
Quero ser seu prelúdio
que te paraliza
quero te fazer dormir
feito menino
quero te sentir
feito cupido
e quando houver prazer
vamos saber.
eu quero ser a chave da sua prisão
quero ser a noite da sua ilusão
quero ser seu motivo,
seu mundo e seu alivio
quero desfazer os nós
que bagunçam a sua vida
quero ser a voz
que te guia
e quando me olhar
eu vou gostar
Eu quer ser a noite cálida
da sua insonia
quero ser a sorte válida
sentir seu cheiro de colonia barata
quero ser o sorriso
que te emudece
quero ser o aviso
que te enlouquece
e quando você falar
eu vou escutar.

Fidamento

O dia é findo
as luzes passam
todos passam

A noite chega
a luz emudece
tudo é prece

E vem vem
de longe, mas vem
Só não sei quem

O mar é lindo
todos sabem
eles sabem

a vida é cega
o triste silencio
a morte é silencio

Eu sei, eu sei
pouco, mas sei
Só que sei

O mar é findo
o dia é lindo
a noite é cega
a vida chega

todos sabem
sabemos?