sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O trágico enamorado

"Elisa" - pensou ele, num estranho murmúrio de lunático. Ernesto era um homem de meias palavras, mas fazia questão de se julgar integro. Entretanto da última vez que a encontrara não lhe restaram palavras a boca. Coitado!
Todo dia era o mesmo capítulo da novela grotesca de sua vida. Trabalhava o dia inteiro e a noite ia na "Lunes de Miel", uma casa noturna pouco frequentada, só para ver Elisa cantar.
Gastava quase todo o seu salário de funcionário público para ver a moça da boca de perdição. Sim, de fato esse era o maior perigo de Elisa: de longe, parecia ser uma menina cândida, doce e afável. Mas, por trás de seus lábios carnudos, bem no fundo daqueles olhos perolados havia algo a ser revelado. Talvez existisse um monstro dentro daquele corpinho que deixava os olhos de Ernesto sem rumo. Sei lá.
Depois de cantar, saía tão rápido do palco, que mal conseguia receber os presentinhos que o pobre enamorado a ela deixava.
Claro, que essa é uma história e como tal, deve ter algo que leve ou pelo menos impulsione ao climax.E eis que um dia, Elisa não sai do palco e finalmente, recebe o primeiro presente de Ernesto...
Não passa muito tempo e os dois se casam, Elisa até então nunca fora descoberta por Ernesto, e por nenhum homem. Exigira todo o respeito do noivo e agora sendo ele o marido, finalmente, pôde descobri-la.
Neste momento, Ernesto assina sua sentença, de repente se vê mais cego por ela, realiza-lhe todos os desejos. Toda dignidade de Ernesto se aniquila diante de cada exigência de Elisa.
Porém a situação fica pior quando esta resolve arrumar vários amantes, pois até então, Elisa que era pura, virgem e realmente cândida, ao provar dos prazeres carnais, acaba se revelando uma mulher profana e insasiavel. Não consegue se conter. Todas as noites vai dar suas voltinhas que não têm hora para acabar...
E Ernesto como todo bom marido - que só existe em narrativas, a espera fiel e aflitamente, mas com a saudade que lhe chega arder o peito. E lhe arde tanto, que de tão ansioso pela espera e atormentado pela ideia de ela não mais voltar, uma noite qualquer, lhe tira o sopro da vida num piscar, num suspiro. Finalmente, o cravo e a canela depois de nunca brigarem, se veem separados...

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