domingo, 30 de maio de 2010

A garota da voz

Há alguns dias, me lembrei de uma história, dessas que você acaba conhecendo casualmente ou acidentalmente, e que simplesmente ignoram qualquer tipo de cumplicidade num diálogo de ‘bar’. De fato muito interessante. Hoje, não há quem não diga a frase super clichê: “amor à primeira vista”, para falar a verdade isso até já se tornou bordão daqueles caras que não sabem o que dizer quando estão completamente dominados por alguém. As mulheres dispensam comentários; não podem ver um cara bonito na rua, que pronto: estão amando a primeira vista.
Mas, o fato é que tudo isso é super comum, entretanto a idéia principal do texto escrito agora é bem diferente, e eu a defino como amor a primeira “ouvida” ou “escutada”, como preferir leitor, até porque, esses verbos conjugados no particípio não soam bem a nenhum ouvido.
Tudo começou quando o telefone tocou- são coisas realmente imprevisíveis; já que nunca sabemos quando o telefone vai tocar. Um belo dia, quando o Maurílio tinha os seus 15 anos, e estava vivenciando um turbilhão de experiências novas, o seu telefone residencial tocou e justamente ele, atendeu. E daí então começou a sua saga e uma das primeiras trajetórias amorosas, que durou poucos meses.
Na primeira vez que ligou, Fabiana, a garota da voz; disse que havia o conhecido no Ferro Velho, que nada mais era do que um bar; ainda bem né, pois seria muito estranho se apaixonar por alguém num Ferro Velho. Ela se encantou, conseguiu seu telefone e resolveu ligar. Resumindo, o Maurílio não se lembrava dela; tampouco se lembrava do ferro velho; porém insistiu na conversa que não terminou em nada.
O fato é que depois de umas semanas, o Maurílio contemplava a visão física e abstrata do telefone, na esperança de que ele tocasse e então pudesse ouvir a voz sedenta da tão misteriosa Fabiana. O telefone tocava e ele atendia, era ela; conversavam, conversavam e conversavam mais um pouco. E é claro, depois de algum tempo foi marcado o 1º encontro. Porém não foi bem um encontro, mas certamente foi uma noite inesquecível para o rapaz; já que levara um “toco”, ou melhor, um bolo. A moça não foi e o Maurílio teve que se contentar em apenas ouvi-la, sem ao menos saber se ela era bonitinha. Porém, pensando por um lado, talvez fosse melhor assim; vai saber se ela não era a reencarnação do dragão do São Jorge. Tá certo que na época, o Maurílio não era bonito; mas pelo menos, hoje ele está. Enfim, voltando ao foco... o Maurílio até pedia o número dela, mas a garota era um mistério além de ser dona de uma bela voz, como descreveu o ouvinte. E pelo menos ela não ligava a cobrar; o que demonstrava que o interesse dela era ‘sei lá o que’...
Conversa vai, conversa vem...e eis que chega o momento unânime de cada relação: a primeira briga. E como sempre, foi ocasionada por um motivo insignificante.
- Se você não retirar o que disse, eu vou desligar esse telefone!- disse Maurílio, irritado. A garota da voz não hesitou diante da ameaça e respondeu prontamente: - Se você desligar, nunca mais ligo para você.Foi o que aconteceu, Maurílio não pensando nas consequências, desligou e Fabiana nunca mais ligou. E ele nunca pode conhecer quem fora a garota que arrebatara seu coração com apenas o som da voz. E até hoje, Maurílio não sabe como era Fabiana, e o que a fizera se encantar. Eu já vou mais longe, vai saber se ela existiu?- Afinal de contas, nunca se sabe quando um adolescente vai ter um distúrbio de esquizofrenia.

Um comentário:

  1. Haehueahua, perfeito o final: "Nunca se sabe quando um adolescente vai ter um distúrbio de esquizofrenia".

    Já conhecia essa história e já aconteceu algo semelhante comigo.

    Adolescência, né? Sempre judiando mais dos homens.

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